Wednesday, November 08, 2006

Você talvez já tenha lido aqueles livros de RPG (RolePlaying Game ou, em português, jogos de interpretação de personagens) onde você escolhe que caminho seguir: se quiser ir para o castelo encontrar a princesa, vá para a página X; se preferir enfrentar o dragão malvado, vá para a página Y; se mudou de idéia e quer voltar para a aldeia beber uma cerveja com os amigos, vá para a página Z. Pois é, esse é um exemplo de como a literatura em hiperficção já existia antes mesmo de a internet ter se tornado essa grande rede de comunicação em que você está agora, neste exato momento!

Para começar, há estudiosos que afirmam que o índice dos livros é uma forma primitiva de hipertexto. O mesmo vale para notas de rodapé, citações, bibliografias e o uso de recursos intertextuais, como citar outros autores e obras: todos remetem a uma leitura não-linear do texto. Ou, como prefere o professor de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Marcos Palacios, a uma leitura multilinear, já que cada leitor estabelece uma linha de leitura própria a cada nova leitura.

Assim, como o próprio Palacios ilustra, existem célebres obras impressas que foram escritas de formas multilineares, como "O Jogo de Amarelinha", de Júlio Cortazar (1966), "Se um viajante numa noite de inverno" (1981), de Ítalo Calvino, "O Dicionário Kazar" (1988), de Milorad Pavitch, "Cent Mille Milliards de Poémes", de Raymond Queneau (que tem uma versão interativa na internet), o conto de Jorge Luis Borges sobre "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam" (1941) e "Composition numéro 1", de Marc Saporta (1965). A obra de Borges, aliás, é repleta da figura do labirinto, usada por estudiosos como Lúcia Leão como metáfora da construção e da leitura em hipertexto. Já o livro de Saporta nem é bem um livro, mas algo como um baralho, onde o leitor escolhe inclusive quando encerrar a leitura e, em conseqüência, a história.

Trata-se de uma geração de escritores pré-hipertextuais ou, como alguns preferem chamar, avant-la-lettre, que usaram recursos mais tarde apropriados pelos adeptos da literatura em hipertexto. Foi uma primeira geração, depois da qual aconteceu muita coisa. Hoje há inclusive escritores que publicam somente pela internet, principalmente em blogs. O que abre uma nova discussão a respeito do fim do livro.

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Os Três Mosqueteiros
Afternoon

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